Eliú repreende a Jó

1 Ouve, pois, Jó, as minhas razões

e dá ouvidos a todas as minhas palavras.

2 Passo agora a falar,

em minha boca fala a língua.

3 As minhas razões provam a sinceridade do meu coração,

e os meus lábios proferem o puro saber.

4 O Espírito de Deus me fez,

e o sopro do Todo-Poderoso me dá vida.

5 Se podes, contesta-me,

dispõe bem as tuas razões perante mim e apresenta-te.

6 Eis que diante de Deus sou como tu és;

também eu sou formado do barro.

7 Por isso, não te inspiro terror,

nem será pesada sobre ti a minha mão.

8 Na verdade, falaste perante mim,

e eu ouvi o som das tuas palavras:

9 Estou limpo, sem transgressão;

puro sou e não tenho iniquidade.

10 Eis que Deus procura pretextos contra mim

e me considera como seu inimigo.

11 Põe no tronco os meus pés

e observa todas as minhas veredas.

12 Nisto não tens razão, eu te respondo;

porque Deus é maior do que o homem.

13 Por que contendes com ele,

afirmando que não te dá contas de nenhum dos seus atos?

14 Pelo contrário, Deus fala de um modo, sim, de dois modos,

mas o homem não atenta para isso.

15 Em sonho ou em visão de noite,

quando cai sono profundo sobre os homens,

quando adormecem na cama,

16 então, lhes abre os ouvidos

e lhes sela a sua instrução,

17 para apartar o homem do seu desígnio

e livrá-lo da soberba;

18 para guardar a sua alma da cova

e a sua vida de passar pela espada.

19 Também no seu leito é castigado com dores,

com incessante contenda nos seus ossos;

20 de modo que a sua vida abomina o pão,

e a sua alma, a comida apetecível.

21 A sua carne, que se via, agora desaparece,

e os seus ossos, que não se viam, agora se descobrem.

22 A sua alma se vai chegando à cova,

e a sua vida, aos portadores da morte.

23 Se com ele houver um anjo intercessor, um dos milhares,

para declarar ao homem o que lhe convém,

24 então, Deus terá misericórdia dele e dirá ao anjo:

Redime-o, para que não desça à cova;

achei resgate.

25 Sua carne se robustecerá com o vigor da sua infância,

e ele tornará aos dias da sua juventude.

26 Deveras orará a Deus, que lhe será propício;

ele, com júbilo, verá a face de Deus,

e este lhe restituirá a sua justiça.

27 Cantará diante dos homens e dirá:

Pequei, perverti o direito

e não fui punido segundo merecia.

28 Deus redimiu a minha alma de ir para a cova;

e a minha vida verá a luz.

29 Eis que tudo isto é obra de Deus,

duas e três vezes para com o homem,

30 para reconduzir da cova a sua alma

e o alumiar com a luz dos viventes.

31 Escuta, pois, ó Jó, ouve-me;

cala-te, e eu falarei.

32 Se tens alguma coisa que dizer, responde-me;

fala, porque desejo justificar-te.

33 Se não, escuta-me;

cala-te, e ensinar-te-ei a sabedoria.

Eliú acusa Jó de se opor a Deus e de entender mal os seus caminhos

1 Assim, na verdade, ó Jó, ouve as minhas razões e dá ouvidos a todas as minhas palavras. 2 Eis que já abri a minha boca; falou a minha língua debaixo do meu paladar. 3 As minhas razões sairão da sinceridade do meu coração; e a pura ciência, dos meus lábios. 4 O Espírito de Deus me fez; e a inspiração do Todo-Poderoso me deu vida. 5 Se podes, responde-me; dispõe bem as tuas razões e levanta-te. 6 Eis que vim de Deus, como tu; do lodo também eu fui formado. 7 Eis que não te perturbará o meu terror, nem será pesada sobre ti a minha mão.

8 Na verdade, tu falaste aos meus ouvidos; e eu ouvi a voz das tuas palavras; dizias: 9 Limpo estou, sem transgressão; puro sou; e não tenho culpa. 10 Eis que ele acha contra mim ocasiões e me considerou como seu inimigo. 11 Põe no tronco os meus pés e observa todas as minhas veredas. 12 Eis que nisto te respondo: Não foste justo; porque maior é Deus do que o homem. 13 Por que razão contendes com ele? Porque ele não dá contas de nenhum dos seus feitos. 14 Antes, Deus fala uma e duas vezes; porém ninguém atenta para isso. 15 Em sonho ou em visão de noite, quando cai sono profundo sobre os homens, e adormecem na cama, 16 então, abre os ouvidos dos homens, e lhes sela a sua instrução, 17 para apartar o homem do seu desígnio e esconder do homem a soberba; 18 para desviar a sua alma da cova e a sua vida, de passar pela espada.

19 Também na sua cama é com dores castigado, e com a incessante contenda dos seus ossos; 20 de modo que a sua vida abomina até o pão; e a sua alma, a comida apetecível. 21 Desaparece a sua carne a olhos vistos; e os seus ossos, que se não viam, agora aparecem; 22 e a sua alma se vai chegando à cova; e a sua vida, ao que traz morte.

23 Se com ele, pois, houver um mensageiro, um intérprete, um entre milhares para declarar ao homem a sua retidão, 24 então, terá misericórdia dele e lhe dirá: Livra-o, que não desça à cova; achei resgate. 25 Sua carne se reverdecerá mais do que na sua infância e tornará aos dias da sua juventude. 26 Deveras, orará a Deus, que se agradará dele, e verá a sua face com júbilo, e restituirá ao homem a sua justiça. 27 Olhará para os homens e dirá: Pequei e perverti o direito, o que de nada me aproveitou. 28 Mas Deus livrou a minha alma de ir para a cova; e a minha vida verá a luz.

29 Eis que tudo isto é obra de Deus, duas e três vezes para com o homem, 30 para desviar a sua alma da perdição e o alumiar com a luz dos viventes. 31 Escuta, pois, ó Jó, ouve-me; cala-te, e eu falarei. 32 Se tens alguma coisa que dizer, responde-me; fala, porque desejo justificar-te. 33 Se não, escuta-me tu; cala-te, e ensinar-te-ei a sabedoria.