Jó nada mais espera desta vida

1 O meu espírito se vai consumindo,

os meus dias se vão apagando,

e só tenho perante mim a sepultura.

2 Estou, de fato, cercado de zombadores,

e os meus olhos são obrigados a lhes contemplar a provocação.

3 Dá-me, pois, um penhor; sê o meu fiador para contigo mesmo;

quem mais haverá que se possa comprometer comigo?

4 Porque ao seu coração encobriste o entendimento,

pelo que não os exaltarás.

5 Se alguém oferece os seus amigos como presa,

os olhos de seus filhos desfalecerão.

6 Mas a mim me pôs por provérbio dos povos;

tornei-me como aquele em cujo rosto se cospe.

7 Pelo que já se escureceram de mágoa os meus olhos,

e já todos os meus membros são como a sombra;

8 os retos pasmam disto,

e o inocente se levanta contra o ímpio.

9 Contudo, o justo segue o seu caminho,

e o puro de mãos cresce mais e mais em força.

10 Mas tornai-vos, todos vós, e vinde cá;

porque sábio nenhum acharei entre vós.

11 Os meus dias passaram, e se malograram os meus propósitos,

as aspirações do meu coração.

12 Convertem-me a noite em dia,

e a luz, dizem, está perto das trevas.

13 Mas, se eu aguardo já a sepultura por minha casa;

se nas trevas estendo a minha cama;

14 se ao sepulcro eu clamo: tu és meu pai;

e aos vermes: vós sois minha mãe e minha irmã,

15 onde está, pois, a minha esperança?

Sim, a minha esperança, quem a poderá ver?

16 Ela descerá até às portas da morte,

quando juntamente no pó teremos descanso.

1 Quase não posso respirar.

A minha vida está se acabando;

o que me espera agora é a sepultura.

2 Estou cercado de zombadores

e sou obrigado a aguentar os seus desaforos.

As pessoas vêm cuspir na minha cara

3 "Ó Deus, só tu podes garantir o meu livramento;

quem mais tenho eu para ser meu fiador?

4 Tu fechaste a mente desses zombadores

para que não entendessem as coisas;

não deixes que eles me derrotem.

5 Como diz o ditado: ‘Passarão fome os filhos daqueles

que por dinheiro traem os seus amigos.’

6 As pessoas usam esse ditado contra mim

e vêm cuspir na minha cara.

7 Estou ficando cego de tanto sofrer,

e o meu corpo é apenas uma sombra.

8 Ao verem isso, os homens direitos ficam horrorizados

e me condenam como se eu fosse um ateu.

9 E esses homens honestos e respeitáveis ficam firmes na sua opinião,

cada vez mais convencidos de estarem certos.

10 Mas, se voltassem aqui,

eu não acharia entre eles nenhum que fosse sábio.

Onde está a minha esperança?

11 "A minha vida vai passando;

os meus planos fracassaram,

e as esperanças do meu coração se foram.

12 Os meus amigos dizem que a noite é dia;

apesar da escuridão, eles afirmam que a luz está perto.

13 A minha casa será no mundo dos mortos,

onde vou me deitar e dormir na escuridão.

14 Direi que a sepultura é o meu pai

e que os vermes são a minha mãe e as minhas irmãs.

15 Se é assim, onde está a minha esperança?

Há alguém que possa ver esperança para mim?

16 Será que ela vai descer aos quartos do mundo dos mortos,

para juntos descansarmos debaixo da terra?"