16 "Se retive o que os pobres
desejavam
ou deixei que os olhos das viúvas
esperassem em vão;
17 ou, se sozinho
comi o meu bocado,
sem reparti-lo com os órfãos
18 — porque
desde a minha mocidade
eu os criei como se fosse
pai deles,
durante toda a minha vida
fui o guia das viúvas —;
19 se vi alguém perecer
por falta de roupa
ou notava que o necessitado
não tinha com que se cobrir;
20 se ele não me agradeceu
do fundo do coração,
quando se aquecia
com a lã dos meus cordeiros;
21 se eu levantei a mão
contra o órfão,
sabendo que eu tinha
o apoio dos juízes,
22 então que a omoplata caia
do meu ombro,
e que o meu braço
seja arrancado da articulação.
23 Porque o castigo de Deus
seria para mim um assombro,
e eu não poderia enfrentar
a sua majestade."
24 "Se no ouro pus
a minha esperança
ou se eu disse ao ouro fino:
‘Você é a minha garantia’;
25 se me alegrei por ser grande
a minha riqueza
e por ter a minha mão
alcançado muito;
26 se olhei para o sol,
quando resplandecia,
ou para a lua, que caminhava
em seu esplendor,
27 e o meu coração se deixou
seduzir em segredo,
e eu lhes atirei beijos com a mão,
28 também isto seria um delito
a ser punido pelos juízes,
pois eu teria negado a Deus,
que está lá em cima."
29 "Se me alegrei com a desgraça
do que me odeia
e se exultei quando o mal o atingiu
30 — eu que não deixei
a minha boca pecar,
rogando praga
para que morresse —;
31 se as pessoas que moram
na minha tenda não disseram:
‘Quem nos dera encontrar
alguém que não se saciou
da carne provida por ele’
32 — pois o estrangeiro
não pernoitava na rua;
as minhas portas estavam
sempre abertas
para os viajantes! —;
33 se, como Adão, encobri
as minhas transgressões,
ocultando a minha iniquidade
em meu íntimo,
34 porque eu tinha medo
da grande multidão,
e o desprezo das famílias
me apavorava,
fazendo com que eu me calasse
e não saísse da porta…"
35 "Quem dera que eu tivesse
quem me ouvisse!
Eis aqui a minha defesa assinada!
Que o Todo-Poderoso
me responda!
Que o meu adversário escreva
a sua acusação!
36 Por certo que a levaria
sobre o meu ombro,
e a poria sobre mim
como se fosse uma coroa.
37 Eu lhe mostraria
o número dos meus passos;
como príncipe
eu me aproximaria dele."
38 "Se a minha terra clamar
contra mim,
e se os seus sulcos
juntamente chorarem;
39 se comi os seus frutos
sem pagar
ou se causei a morte
aos seus donos,
40 que ela produza espinhos
em vez de trigo,
e joio em lugar de cevada."
Fim das palavras de Jó.