2 Uma noite, estava eu a dormir e o meu coração acordou,num sonho. É que ouvi a voz do meu amor,que me estava a bater à porta do quarto: -Abre-me, minha querida, minha amada,minha pomba - dizia ele, - passei a noite toda fora,e estou coberto de orvalho.
3 Mas eu respondi-lhe: Já me despi; iria eu agora vestir-me de novo? Lavei já os pés, iria torná-los a sujar?
4 O meu amor tentou abrir ele próprio o fecho da porta e as minhas entranhas estremeceram por amor dele.
5 Saltei por fim da cama para lhe abrir. As minhas mãos destilavam perfume,quando puxei pela fechadura da porta.
6 Abri então ao meu amado,mas ele já se tinha ido embora. O meu coração parou de bater. Busquei-o por toda a parte,mas sem o encontrar. Chamei por ele, mas não obtive resposta alguma.
7 Os guardas da ronda virame espancaram-me, deixando-me ferida; a sentinela da muralha rasgou-me o manto.
8 Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém,que se encontrarem o meu amorlhe digam que estou doente de amor. As filhas de Jerusalém:
9 Ó mulher de rara beleza, que tem o teu amado mais do que qualquer outro,para que nos peças tal coisa? Ela:
10 O meu querido tem a cor saudável da pele: queimada pelo Sol; é elegante; é melhor do que dez mil outros mais!
11 A sua cabeça é como ouro puríssimo; tem os cabelos ondulados e pretos retintos.
12 Seus olhos são duas pombasjunto a uma corrente de águas, límpidas e calmas.
13 As faces são um canteiro de plantas aromáticas; seus lábios perfumados,como lírios que gotejassem mirra!
14 Seus braços parecem argolas de ouro engastadas de topázios; seu corpo é de esplêndido marfim, escrustado de pedras preciosas.
15 As pernas, tem-nas como se fossem pilares de mármore,assentes em bases de ouro puro; parecem-se com os maravilhosos cedros do Líbano; não têm rival.
16 Seu falar é doce; sim, é todo desejável. Tal é o meu amado, o meu amigo, ó filhas de Jerusalém.
1 Entrei em meu jardim, minha irmã, minha noiva; ajuntei a minha mirra com as minhas especiarias. Comi o meu favo e o meu mel; Bebi o meu vinho e o meu leite. Comam, amigos, bebam e embriaguem-se, ó amados.
2 Eu estava quase dormindo, mas o meu coração estava acordado. Escutem! O meu amado está batendo: Abra-me a porta, minha irmã, minha querida, minha pomba, minha mulher ideal, pois a minha cabeça está encharcada de orvalho, o meu cabelo, da umidade da noite.
3 Já tirei a túnica; terei que vestir-me de novo? Já lavei os pés; terei que sujá-los de novo?
4 O meu amado pôs a mão por uma abertura da tranca; meu coração começou a palpitar por causa dele.
5 Levantei-me para abrir-lhe a porta; minhas mãos destilavam mirra, meus dedos vertiam mirra, na maçaneta da tranca.
6 Eu abri, mas o meu amado se fora; o meu amado já havia partido. Eu quase desmaiei de tristeza! Procurei-o, mas não o encontrei. Eu o chamei, mas ele não respondeu.
7 As sentinelas me encontraram enquanto faziam a ronda na cidade. Bateram-me, feriram-me; e tomaram o meu manto, as sentinelas dos muros!
8 Ó mulheres de Jerusalém, eu lhes faço jurar: se encontrarem o meu amado, o que dirão a ele? Digam-lhe que estou doente de amor.
9 Que diferença há entre o seu amado e outro qualquer, ó você, das mulheres a mais linda? Que diferença há entre o seu amado e outro qualquer, para você nos obrigar a tal promessa?
10 O meu amado tem a pele bronzeada; ele se destaca entre dez mil.
11 Sua cabeça é ouro, o ouro mais puro; seus cabelos ondulam ao vento como ramos de palmeira; são negros como o corvo.
12 Seus olhos são como pombas junto aos regatos de água, lavados em leite, incrustados como jóias.
13 Suas faces são como um jardim de especiarias que exalam perfume. Seus lábios são como lírios que destilam mirra.
14 Seus braços são cilindros de ouro engastados com berilo. Seu tronco é como marfim polido adornado de safiras.
15 Suas pernas são colunas de mármore firmadas em bases de ouro puro. Sua aparência é como o Líbano; ele é elegante como os cedros.
16 Sua boca é a própria doçura; ele é mui desejável. Esse é o meu amado, esse é o meu querido, ó mulheres de Jerusalém.