1 Resposta de Job:
2 Oh, se a minha tristeza e a minha mágoa se pudessem pesar!
3 São mais pesadas do que a areia de milhares de praias. Por isso falei inconsideradamente.
4 Porque o Senhor me abateu com as suas flechas; as suas setas envenenadas penetraram fundo no meu coração. Todos os terrores vindos de Deus se levantaram sobre mim.
5 Quando os jumentos monteses zurram,é porque se lhes acabou a erva verde; o boi não se põe a mugir de fome se está junto do pasto;
6 uma pessoa em geral queixa-se,mas é se lhe faltar o tempero na comida. Terá algum gosto a clara do ovo crua- perco mesmo o apetite só de a ver; fico doente ao pensar que teria de a engolir!
8 Oh, se Deus me concedesse aquilo por que mais anseio- morrer debaixo da sua mãoe ficar livre do seu aperto, que me magoa.
10 Uma coisa, pelo menos, me dá consolação, apesar do sofrimento todo - é que não neguei as palavras do Deus Santo.
11 Porque é que, afinal, a minha própria resistência me mantém em vida? Como posso eu ter paciência para ficar à espera de morrer?
12 Sou eu insensível como uma pedra? É meu corpo de ferro?
13 Estou completamente desamparado, perdi toda a esperança.
14 Normalmente é-se amável para com um amigo enfraquecido; mas vocês acusam-me, sem o menor temor de Deus.
21 Assim acontece comigo - estou desiludido: vocês afastam-se de mim com terror e recusam-me ajuda.
24 Tudo o que pretendo é uma resposta adequada,e então ficarei sossegado. Digam-me o que eu fiz de errado?
26 Serão vocês capazes de me condenar,só porque tive um grito impulsivo de desespero?
27 Isso seria bater num órfão desamparado, ou vender um amigo.
28 Olhem para mim: Mentir-vos-ia eu?
29 Párem de me considerar culpado, porque sou uma pessoa recta. Não sejam tão injustos!
30 Não conheço eu bem a diferença entre o bem e o mal? Não saberia eu aceitar, se tivesse realmente pecado nalguma coisa?
1 Então Jó respondeu:
2 "Se tão-somente pudessem pesar a minha aflição e pôr na balança a minha desgraça!
3 Veriam que o seu peso é maior que o da areia dos mares. Por isso as minhas palavras são tão impetuosas.
4 As flechas do Todo-poderoso estão cravadas em mim, e o meu espírito suga delas o veneno; os terrores de Deus estão posicionados contra mim.
5 Zurra o jumento selvagem, se tiver capim? Muge o boi, se tiver forragem?
6 Come-se sem sal uma comida insípida? E a clara do ovo, tem algum sabor?
7 Recuso-me a tocar nisso; esse tipo de comida causa-me repugnância.
8 "Se tão-somente fosse atendido o meu pedido, se Deus me concedesse o meu desejo,
9 se Deus se dispusesse a esmagar-me, a soltar a mão protetora e eliminar-me!
10 Pois eu ainda teria o consolo, minha alegria em meio à dor implacável, de não ter negado as palavras do Santo.
11 "Que esperança posso ter, se já não tenho forças? Como posso ter paciência, se não tenho futuro?
12 Acaso tenho a força da pedra? Acaso a minha carne é de bronze?
13 Haverá poder que me ajude, agora que os meus recursos se foram?
14 "Um homem desesperado deve receber a compaixão de seus amigos, muito embora ele tenha abandonado o temor do Todo-poderoso.
15 Mas os meus irmãos enganaram-me como riachos temporários, como os riachos que transbordam
16 quando o degelo os torna turvos e a neve que se derrete os faz encher,
17 mas que param de fluir no tempo da seca, e no calor desaparecem dos seus leitos.
18 As caravanas se desviam de suas rotas; sobem para lugares desertos e perecem.
19 Procuram água as caravanas de Temá, olham esperançosos os mercadores de Sabá.
20 Ficam tristes, porque estavam confiantes; lá chegaram tão-somente para sofrer decepção.
21 Pois agora vocês de nada me valeram; contemplam minha temível situação, e se enchem de medo.
22 Alguma vez lhes pedi que me dessem alguma coisa? Ou que da sua riqueza pagassem resgate por mim?
23 Ou que me livrassem das mãos do inimigo? Ou que me libertassem das garras de quem me oprime?
24 "Ensinem-me, e eu me calarei; mostrem-me onde errei.
25 Como doem as palavras verdadeiras! Mas o que provam os argumentos de vocês?
26 Vocês pretendem corrigir o que digo e tratar como vento as palavras de um homem desesperado?
27 Vocês seriam capazes de pôr em sorteio o órfão e de vender um amigo por uma bagatela!
28 "Mas agora, tenham a bondade de olhar para mim. Será que eu mentiria na frente de vocês?
29 Reconsiderem a questão, não sejam injustos; tornem a analisá-la, pois a minha integridade está em jogo.
30 Há alguma iniqüidade em meus lábios? Será que a minha boca não consegue discernir a maldade?