1 Como o ouro perdeu o seu brilho! O ouro fino tornou-se baço! As pedras do santuário estão espalhadas por terra, no meio da rua.
2 A fina flor da tua juventude - esse ouro do mais rico quilate - é tratada como se fossem meros jarros vulgares de barro.
3 Até os chacais alimentam as crias, mas o meu povo Israel não pode fazê-lo. São como as cruéis avestruzes do deserto, descuidadas para com as crias de mama. As línguas das crianças prendem-se ao céu-da-boca com a sede que têm, pois não conseguem encontrar uma gota de água. Os bebés choram por comida e ninguém consegue dar-lhes seja o que for.
5 Aqueles que costumavam comer faustosamente andam agora pelos cantos das ruas estendendo as mãos a pedir esmola. Os que sempre viveram em palácios estão agora no meio da sujidade, coçando-se e mendigando.
6 Porque o castigo do meu povo é maior do que o de Sodoma, a qual foi subvertida totalmente, em poucos momentos, por uma catástrofe, e sem que interviesse a mão do homem.
7 Os nossos nobres eram belos e elegantes, homens finos.
8 Mas agora estão com os rostos estragados e sujos, como de fuligem. Até ninguém os reconhece. Estão na pele e ossos, secos e mirrados.
9 Os que perdem a vida na guerra são considerados como muito mais ditosos do que os que morrem de fome.
10 Mulheres piedosas e sensíveis chegaram ao ponto de cozer e comer os próprios filhos, para conseguirem assim sobreviver ao cerco da cidade.
11 Mas agora, enfim a cólera do Senhor está satisfeita; a sua ira terrível foi derramada. Ele acendeu um fogo em Jerusalém que ardeu até aos fundamentos.
12 Não havia um rei sequer - nem ninguém em todo o mundo - que acreditasse que o inimigo poderia entrar pelas portas de Jerusalém!
13 E Deus permitiu que isso acontecesse por causa dos pecados dos profetas e dos sacerdotes que sujaram a cidade, fazendo derramar-se sangue inocente.
14 E agora esses mesmos homens andam cambaleando, cegos, através da ruas, cobertos de sangue, tornando impuro tudo o que tocam.
15 Afastam-se, grita-lhes o povo. Vocês são impuros! E eles fogem para terras distantes e vagueiam por entre estrangeiros; mas ninguém lhes dá autorização de permanência.
16 Deus mesmo se confrontou com eles; por isso não os socorrerá mais, visto que perseguiram os sacerdotes e os anciãos que queriam manter-se fiéis ao Senhor.
17 Bem pedimos ajuda aos nossos aliados para que venham salvar-nos, mas pedimos em vão. As nações com quem mais contávamos não mexem um dedo a nosso favor.
18 Não podemos sair às ruas sem risco de perder a vida. O nosso fim está perto - os nossos dias estão contados. Estamos condenados.
19 Os nossos inimigos são mais rápidos do que águias; se fugimos para as montanhas, apanham-nos lá; se nos escondemos no deserto, já lá estão à nossa espera.
20 O nosso rei - que nos é tão precioso como o ar que respiramos, o ungido do Senhor - caiu nas armadilhas. E nós pensávamos que, sob a sua protecção, podíamos resistir contra uma nação qualquer da Terra!
21 Ficaste feliz, ó povo de Edom, da terra de Uz! No entanto também tu sentirás o peso da terrível ira do Senhor.
22 O exílio de Israel por causa dos seus pecados terminará por fim, mas o de Edom não acabará nunca mais.